“Poxa, Rosa! Veio do outro hemisfério do planeta, mais especificamente dessa “Sereníssima” cidade flutuante, a bela Veneza, este discaço!!! Obrigado. Não paro de ouvir. “Madrigal”, este teu trabalho mais recente, é uma dádiva, um sopro de beleza, amor, brasilidade e empoderamento feminino nestes dias tão bicudos, tão estranhos O trabalho é de uma elegância e precisão fascinantes. Todos os brasis estão ali: expedientes de samba, choro, bossa, ijexá, música caipira, toada, axé, e muito mais. Que álbum! Esbanja bom gosto. Nada está ali por acaso. Os timbres escolhidos, os sons, os silêncios. Madrigal é um prato de fina composição. De largada tu vens como uma “Cigarra” cantando e clareando tudo. Lindo! Som/cheiro de terra molhada. Rosa, na boa, tu cantas muito! O ar, o timbre, a afinação… Tu és uma das melhores cantora do país – embora o país não saiba. Mas esta cigarra, esta “canária”, eu já conhecia e admirava. O que eu, confesso não conhecia, é a tremenda compositora Rosa Emília. Das 15 faixas do disco, nada mais nada menos do que 12 canções tu assinas em parceria! São textos lindos, precisos, que cantam e contam uma vida. Vem lá da “Infância”, esta aluada intérprete e autora nos mostrando suas fases: “lua menina, lua crescida”. Cantas belamente a terra, o mar, o interior do país e o interior da gente. Em “Minha Vez que Chega”, voltas a tua Bahia natal, e nos leva junto. Com teu ritmo, texto e intenção, revisitamos espaços icônicos de tua memória afetiva como o famoso e delicioso Acarajé da Dinha do Rio Vermelho, o Candomblé de Hilda, a Praia do Buracão, o Bar do Reggae no Pelourinho, dentre outros. Sabores, cheiros, cores e sons do Brasil estão por todo o disco. Às vezes mais explícitos, como em “Árvore Mágica”, noutros momentos, de forma mais sutil. Parabéns ao teu parceiro em 10 das 15 canções, este excelente compositor, arranjador e instrumentista italiano, o Giovanni Buoro – que além de executar lindamente as guitarras do disco, é responsável, juntamente com Roberto Rossi, pelos belos arranjos do álbum. O amor-próprio, o empoderamento feminino, estão por tudo, como na faixa-título, a bela “Madrigal”, quando dizes, por exemplo “aprendi que o amor mora em mim”. O disco é uma festa da própria vida. Uma ode ao amor. Repleto de referências. Em “Mantra da Praia” – mais uma das belas parcerias com Giovanni, surge às vezes alusão e noutras incidência de Bachianas Brasileiras nº 4 do Villa-Lobos. Que luxo! Maestro este, que tu ainda trazes para fechar o álbum com “Tristorosa”, música de Villa-Lobos que recebeu esta linda letra de Cacaso. Os músicos participantes e seus instrumentos estão impecáveis. Requintes de pura beleza, como o cello do mestre Jaques Morelenbaum, pra citar apenas um e não me alongar. Que discaço! Como já disse, Madrigal é um prato de fina composição que deve ser degustado com calma e completa atenção. Não paro de ouvir. Veio lá do outro hemisfério do planeta, talvez o disco mais brasileiro que escutei neste ano. Obrigado, Rosa Emília.”
#CDMadrigal por Caetano Silveira